Em 18 de julho de 2025, a Diretora de Inteligência Nacional, Tulsi Gabbard, desclassificou documentos que, segundo ela, expunham uma “conspiração de traição” do ex-presidente Barack Obama e seu governo para fabricar uma narrativa de interferência russa nas eleições presidenciais americanas de 2016. As alegações de Gabbard, que geraram considerável controvérsia, alegavam que Obama e altos funcionários manipularam dados de inteligência para minar a vitória do presidente Donald Trump sobre Hillary Clinton em 2016. Posteriormente, o gabinete de Obama emitiu uma rara declaração descartando as alegações como “absurdas e desinformação” e enfatizando que as descobertas não contradiziam as conclusões estabelecidas sobre o papel da Rússia nas eleições de 2016.
O relatório de Gabbard, apoiado por 114 páginas de e-mails e memorandos parcialmente redigidos, alega que a equipe de segurança nacional de Obama, incluindo o ex-diretor de Inteligência Nacional James Clapper, o ex-diretor da CIA John Brennan, o ex-diretor do FBI James Comey e outros, orquestrou um golpe de Estado que durou anos contra Trump. Ela citou avaliações de inteligência anteriores à eleição de 2016 que afirmavam que a Rússia “provavelmente não” tentou influenciar a eleição por meio de ataques cibernéticos à infraestrutura eleitoral. Gabbard argumenta que as alegações pós-eleitorais de interferência russa, particularmente aquelas na Avaliação da Comunidade de Inteligência (ICA) de 2017, foram politicamente motivadas e baseadas em fontes não confiáveis, como o dossiê Steele financiado pela campanha de Clinton.
A resposta do governo Obama, emitida em 22 de julho de 2025, foi incisiva e direta. “Por respeito ao Gabinete do Presidente, nosso gabinete normalmente não responde às constantes bobagens e desinformações que emanam da Casa Branca”, dizia o comunicado. “Mas essas alegações são ultrajantes o suficiente para justificar tal resposta. Essas acusações bizarras são ridículas e uma tentativa débil de desviar a atenção.” O comunicado enfatizou que os documentos desclassificados de Gabbard não refutam a conclusão amplamente aceita de que a Rússia tentou influenciar as eleições de 2016 por meio de campanhas de desinformação, hacking, vazamentos e manipulação de mídias sociais, apesar da falta de evidências de fraude eleitoral. Essa conclusão foi confirmada por um relatório bipartidário de 2020 do Comitê de Inteligência do Senado, presidido pelo então senador Marco Rubio, que encontrou “evidências irrefutáveis” de interferência russa em apoio a Trump.
Os legisladores democratas criticaram imediatamente as ações de Gabbard. O deputado Jim Himes, o democrata de maior destaque no Comitê de Inteligência da Câmara, classificou as alegações como “absolutamente absurdas” e acusou Gabbard de desviar a atenção de outras controvérsias, incluindo a investigação sobre os laços passados do presidente Trump com Jeffrey Epstein. O senador Mark Warner, vice-presidente do Comitê de Inteligência do Senado, chamou o relatório de Gabbard de “mentira perigosa” que distorce as descobertas de inteligência e mina a confiança na comunidade de inteligência. Warner enfatizou que a investigação do Senado, que durou anos e examinou milhares de documentos, confirmou por unanimidade os amplos esforços da Rússia para influenciar a eleição a favor de Trump por meio de campanhas nas redes sociais e ataques cibernéticos contra alvos democratas.
As alegações de Gabbard encontraram apoio entre os aliados de Trump, que há muito tempo chamam a investigação sobre a Rússia de “farsa”. O presidente Trump compartilhou suas descobertas no Truth Social e publicou vídeos e memes, incluindo um clipe gerado por IA mostrando a prisão de Obama. Stephen Miller, alto funcionário da Casa Branca, e o senador Mike Lee elogiaram os esforços de Gabbard, chamando-os de denúncia de um “golpe sedicioso” contra Trump. Críticos, incluindo vozes conservadoras como Andrew McCarthy, da National Review, apontam, no entanto, que o relatório de Gabbard confunde a ausência de manipulação eleitoral com o problema mais amplo da interferência russa, documentado por múltiplas investigações.
O momento da publicação do relatório de Gabbard levanta questões sobre suas motivações. Divulgado em meio à crescente atenção voltada para o caso Epstein, do governo Trump, alguns democratas suspeitam que seja uma distração das controvérsias em curso. Os documentos desclassificados, incluindo e-mails e atas de reuniões do final de 2016, concentram-se em detalhes burocráticos, como um briefing presidencial diário retratado, mas não fornecem evidências de conspiração, de acordo com fontes do Congresso familiarizadas com o relatório do Senado de 2020. Essas fontes argumentam que o relato de Gabbard distorce o foco do ICA na desinformação e nos ataques cibernéticos russos, e não na manipulação eleitoral, que as autoridades de Obama nunca relataram.
A controvérsia reacendeu os debates sobre a politização da inteligência. Gabbard, cuja nomeação como Diretora de Inteligência Nacional foi controversa devido à sua limitada experiência em inteligência e declarações anteriores favoráveis à Rússia, anunciou que apresentaria novas desclassificações e acusações criminais ao Departamento de Justiça. O Departamento de Justiça confirmou o recebimento do relatório, mas se recusou a fazer mais comentários. Enquanto isso, ex-funcionários de Obama citados no relatório, incluindo Clapper, Brennan e Comey, permaneceram em silêncio e não comentaram publicamente as alegações.
À medida que o governo Trump continua a negar o legado da investigação sobre a Rússia, a divisão entre os campos políticos se aprofunda. As ações de Gabbard, apoiadas por Trump e seus apoiadores, contrastam fortemente com as conclusões bipartidárias do Comitê de Inteligência do Senado e de outras investigações que têm consistentemente confirmado a interferência russa. O gabinete de Obama e a liderança democrata, por enquanto, rejeitam veementemente as alegações de Gabbard, retratando-as como uma tentativa de reescrever a história e minar a confiança pública na comunidade de inteligência.