O universo dos talk shows noturnos nos Estados Unidos foi abalado recentemente com o anúncio do cancelamento do “The Late Show” com Stephen Colbert, programado para encerrar em maio de 2026. A decisão da CBS, oficialmente atribuída a questões financeiras, gerou uma onda de especulações e reações, especialmente devido ao contexto político envolvendo o presidente Donald Trump e a fusão da Paramount, dona da CBS, com a Skydance. Em meio a esse cenário de incerteza e controvérsia, um gesto marcante de solidariedade emergiu no mundo da comédia: Jimmy Fallon, junto com outros grandes nomes do humor, organizou um show surpresa para apoiar Colbert e sua equipe, numa demonstração de união que emocionou fãs e reacendeu debates sobre o futuro dos talk shows.

A notícia do fim do “The Late Show” pegou muitos de surpresa, incluindo o próprio Colbert, que revelou ter sido informado da decisão apenas na noite anterior ao anúncio público. Durante quase uma década, Colbert transformou o programa em uma das vozes mais incisivas da televisão americana, conhecida por sua sátira política afiada, especialmente contra Trump. A decisão da CBS, no entanto, levantou suspeitas de motivações políticas, já que o cancelamento ocorreu logo após um acordo de US$ 16 milhões com Trump, relacionado a uma disputa judicial sobre uma entrevista com Kamala Harris. Esse contexto tornou o fim do programa não apenas uma questão de orçamento, mas um símbolo de tensões maiores sobre liberdade de expressão na mídia.
Foi nesse cenário que Jimmy Fallon, apresentador do “The Tonight Show” da NBC, decidiu agir. Conhecido por seu estilo caloroso e acessível, Fallon reuniu um grupo de comediantes renomados, incluindo Jimmy Kimmel, Seth Meyers e John Oliver, para um evento surpresa no estúdio do “The Late Show” em Nova York. O show, que não foi anunciado previamente, aconteceu dias após o anúncio do cancelamento, com os apresentadores aparecendo na plateia e subindo ao palco para apoiar Colbert. O gesto foi mais do que uma demonstração de amizade; foi uma declaração coletiva em defesa da comédia como uma ferramenta de crítica social e da importância de manter vozes independentes na televisão.

Durante o evento, Fallon abriu com um monólogo emocionado, elogiando Colbert como “um dos apresentadores mais inteligentes e engraçados de todos os tempos” e destacando a relevância dos talk shows para a cultura americana. Ele brincou sobre a necessidade de encontrar uma nova rotina para as noites de seus amigos e familiares, mas também fez questão de reforçar a gravidade do momento, sugerindo que o cancelamento de Colbert poderia ser um precedente perigoso para outros programas. Kimmel, por sua vez, foi mais direto, chamando a justificativa financeira da CBS de “absurda” e apontando para as receitas substanciais geradas por taxas de afiliação, que muitas vezes são ignoradas em análises de orçamento.

O show surpresa não foi apenas um momento de apoio emocional, mas também uma plataforma para os comediantes expressarem suas preocupações sobre o futuro do gênero. John Oliver, apresentador do “Last Week Tonight”, descreveu o cancelamento como “terrível” e “muito triste”, enquanto Seth Meyers destacou a qualidade humana de Colbert, chamando-o de “uma pessoa ainda melhor do que comediante”. A presença desses nomes no estúdio Ed Sullivan, onde o “The Late Show” é gravado, foi um lembrete do impacto cultural que esses programas têm, mesmo em um momento de declínio de audiência na TV aberta.
A reação do público foi imediata. Nas redes sociais, fãs compartilharam clipes do evento, elogiando a união dos comediantes e criticando a CBS por sua decisão. Alguns apontaram que a queda de audiência, embora real — com o “The Late Show” registrando 2,4 milhões de telespectadores no último trimestre —, não justifica o fim de um programa tão influente. Outros especularam que a pressão política pode ter desempenhado um papel maior do que o admitido. A presença de manifestantes do lado de fora do estúdio, segurando cartazes com mensagens como “Colbert fica!”, reforçou o impacto emocional do cancelamento.
Enquanto isso, Trump não perdeu a oportunidade de comentar, celebrando o fim do programa em sua plataforma Truth Social com insultos característicos, chamando Colbert de “sem talento” e sugerindo que Kimmel e Fallon seriam os próximos. Essa retórica apenas intensificou a percepção de que o cancelamento pode ter motivações além das financeiras, alimentando o apoio público a Colbert. O show surpresa, transmitido ao vivo em algumas plataformas digitais, também ganhou tração online, com trechos atingindo milhões de visualizações, provando que, apesar das dificuldades da TV tradicional, o alcance digital dos talk shows continua forte.
Para Fallon e seus colegas, o evento foi uma chance de reafirmar a relevância dos talk shows como espaços de diálogo e humor em tempos de polarização. Embora o futuro do “The Late Show” permaneça incerto até maio de 2026, a união desses comediantes enviou uma mensagem clara: a comédia noturna, mesmo sob pressão, não se calará facilmente. À medida que o público aguarda os próximos passos de Colbert, o gesto de solidariedade de Fallon e outros serve como um lembrete do poder da comunidade artística em enfrentar desafios e defender a liberdade de expressão.