60 HORAS SEM ESPERANÇA NO INFERNO: A Tragédia Inesquecível de Omayra Sánchez – A Menina Presa em um Túmulo Aquático que Tornou Seus Olhos Negros

Em 13 de novembro de 1985, o vulcão Nevado del Ruiz entrou em erupção, desencadeando um deslizamento de terra catastrófico que soterrou a cidade de Armero, na Colômbia, ceifando mais de 25.000 vidas. Entre as imagens mais marcantes da tragédia está a de Omayra Sánchez, de 13 anos, capturada pelo fotógrafo francês Frank Fournier em seus momentos finais, presa nos escombros e com água até o pescoço. Sua história comovente, marcada pela coragem e por um resgate fracassado, provocou indignação global e expôs as deficiências da resposta a desastres. Ao refletirmos sobre essa tragédia de 40 anos, que lições ainda podemos tirar da provação de Omayra e como sua imagem continua a desafiar nossa humanidade?

A tragédia de Armero, desencadeada pela erupção do vulcão Nevado del Ruiz em 13 de novembro de 1985, continua sendo um dos desastres naturais mais mortais da Colômbia. A 5.300 metros de altitude, o vulcão mostrava sinais de instabilidade desde a década de 1840, mas em setembro de 1985, seus tremores alarmaram os 31.000 moradores de Armero, 48 quilômetros a leste da cratera. A erupção, embora pequena, derreteu de 5% a 10% da camada de gelo da Cratera Arasas, liberando um lahar, um fluxo de lama de 40 km/h, que engolfou 85% de Armero em lama espessa, destruindo estradas, casas e pontes, de acordo com o Serviço Geológico dos EUA. Mais de 25.000 pessoas morreram, com apenas um quinto da população da cidade sobrevivendo, muitas com ferimentos graves, como fraturas no crânio ou amputações, de acordo com o New York Times. Em meio a essa devastação, Omayra Sánchez, de 13 anos, tornou-se um símbolo global do custo humano do desastre.

A história de Omayra começou quando a corrente de lama a prendeu sob sua casa desabada, prendendo suas pernas sob uma porta de tijolos e os braços de sua tia falecida, com água até o pescoço, relata a BBC. O fotojornalista francês Frank Fournier, chegando a Bogotá dois dias após a erupção, chegou a Armero após uma exaustiva viagem de cinco horas e duas horas e meia. Esperando esforços de resgate organizados, ele encontrou o caos: “Centenas de pessoas ficaram presas. Os socorristas estavam tendo dificuldade para alcançá-las. Eu podia ouvir as pessoas gritando por socorro e então silêncio, um silêncio assustador”, disse Fournier à BBC em 2005. Guiado por um fazendeiro, ele encontrou Omayra, que havia sofrido três dias na lama e na água, e passou pela inundação contínua. Voluntários e funcionários locais da Cruz Vermelha tentaram libertá-la, mas não tinham o equipamento, especificamente uma bomba d’água ou maquinário pesado, para desalojar os destroços.

A resiliência de Omayra transpareceu em meio à sua provação. Apesar de perder a consciência e a consciência, ela falou com repórteres, incluindo German Santamaria, do Tiempo, preocupada com a escola desaparecida: “Vou perder um ano porque não vou à escola há dois dias”. Ela chegou a pedir a Fournier que a levasse de carro para a escola, temendo o atraso. Sua coragem, ao encarar a morte com dignidade, comoveu Fournier, que permaneceu ao seu lado. “Ela sentia a vida se esvaindo”, recordou mais tarde. Após 60 horas, às 9h45 da manhã de 16 de novembro, Omayra morreu, com o corpo tombando para trás, deixando apenas o nariz, a boca e um olho acima da água, segundo o New York Times. Um espectador cobriu ela e sua tia com uma toalha de mesa, um último ato de respeito. Sua mãe, Maria Aleida, enfermeira, soube da morte da filha durante uma entrevista na rádio Caracol, chorando silenciosamente, mas pedindo que as pessoas se concentrassem nos vivos, como seu filho Álvaro Enrique, que perdeu um dedo, mas sobreviveu.

A fotografia de Fournier de Omayra, com os olhos negros e encharcados, agarrando-se à vida, publicada na Paris Match, ganhou o prêmio World Press Photo do Ano de 1986. Sua força bruta provocou indignação global, não apenas pela tragédia, mas também pela resposta inadequada do governo colombiano. Os esforços de resgate foram lamentavelmente insuficientes: apenas um punhado de voluntários da Cruz Vermelha e moradores locais vasculharam os escombros, sem a presença significativa do exército colombiano de 100.000 homens ou da força policial de 65.000 membros, de acordo com o Guardian. O ministro da Defesa, Miguel Vega Uribe, defendeu a resposta, citando a infraestrutura subdesenvolvida do país e a lama intransitável, mas admitiu: “Não temos esse tipo de equipamento”. A ajuda estrangeira, incluindo helicópteros e hospitais móveis, chegou tarde demais para muitos, com 70 sobreviventes precisando de amputações, segundo a Reuters. X postagens, como a “foto de Omayra do @HistoryInpics mudou a maneira como vemos os desastres”, refletem o impacto duradouro da imagem.

A reação atacou tanto o governo quanto o papel de Fournier. Críticos questionaram a ética de fotografar uma criança moribunda, acusando fotojornalistas de explorar o sofrimento. Fournier respondeu: “Existem centenas de milhares de Omayras ao redor do mundo, histórias importantes sobre os pobres e os fracos, e nós, fotojornalistas, estamos lá para criar a ponte”. Sua imagem expôs a falta de liderança e recursos, já que os socorristas não tinham nem mesmo as ferramentas básicas para salvar Omayra, cujas pernas ficaram presas além do alcance. Diplomatas e voluntários estrangeiros relataram que ofertas de ajuda foram rejeitadas, embora autoridades tenham negado isso, de acordo com o Washington Post. A controvérsia alimentou debates sobre a preparação para desastres e o papel do fotojornalismo, com Fournier argumentando que seu trabalho “mobilizou pessoas para ajudar aqueles que haviam sido resgatados”. O “poder duradouro” da imagem, ainda assombroso décadas depois, ressalta seu papel na amplificação de vozes marginalizadas.

A destruição de Armero evidenciou falhas sistêmicas. Os sinais de alerta do vulcão, o fluxo de retorno e a queda de cinzas foram ignorados, sem um plano de evacuação em vigor, apesar de um relatório geológico de 1985 prever o risco de um lahar. A escala do fluxo de lama, com até 1,6 km de largura, sobrecarregou a infraestrutura de Armero, prendendo moradores como Omayra, que não conseguiram escapar de sua força. Os sobreviventes enfrentaram traumas de longo prazo, com 80% da cidade arrasada, de acordo com a UNESCO. A mãe de Omayra, Maria Aleida, exemplificou a resiliência, concentrando-se em seu filho sobrevivente e na reconstrução da comunidade. O desastre estimulou a Colômbia a estabelecer um sistema nacional de resposta a desastres em 1986, embora ainda existam lacunas, como visto no deslizamento de terra do MOCOA em 2010 (mais de 300 mortes), para o socorro. A fotografia de Fournier, amplamente compartilhada no X (@WorldPressphoto), continua a simbolizar o custo humano da negligência e o poder da narrativa visual.

A trágica morte de Omayra Sánchez no desastre de Armero em 1985, imortalizada pela fotografia comovente de Frank Fournier, permanece um poderoso lembrete da vulnerabilidade humana e das falhas sistêmicas. Sua coragem diante de um fim agonizante, somada a esforços de resgate inadequados, provocou indignação global e reformulou a resposta ao desastre na Colômbia. Ao homenagearmos a memória de Omayra, sua história nos desafia a exigir maior preparação e a questionar a ética de documentar o sofrimento.

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