BRINCANDO COM A MORTE: A chocante verdade sobre os perigos não resolvidos do Everest

O Monte Everest, o pico mais alto do mundo, é há muito tempo um símbolo da ambição humana, atraindo aventureiros de todo o mundo para testar seus limites em suas encostas implacáveis. Desde 1922, mais de 300 almas pereceram na busca por seu cume e, este ano, a montanha ganhou seu apelido sinistro — “Zona da Morte” — com um recorde de 11 mortes em apenas nove dias. Aninhado entre o Tibete e o Nepal, o baixo nível de oxigênio, as temperaturas congelantes e o clima imprevisível do Everest o tornam uma aposta arriscada. No entanto, o fascínio de estar no topo do “teto do mundo” continua a cativar, mesmo com a superlotação e as falhas sistêmicas transformando sonhos em tragédias. O que está causando esse número de mortes e os perigos da montanha podem ser domados? Vamos mergulhar no caos da temporada de escalada do Everest de 2025 e explorar as falhas humanas e sistêmicas por trás das manchetes.

 

 

O fascínio do Everest é inegável, mas a temporada de escalada deste ano expôs seu lado mais sombrio. Uma combinação letal de superlotação, escaladores inexperientes e regulamentações frouxas levou a montanha a um ponto de ruptura. A seguir, analisamos os principais fatores que contribuíram para a crise e a necessidade urgente de reformas.

A tempestade perfeita: superlotação e problemas climáticos

 

Todo mês de maio, alpinistas se reúnem no Acampamento Base do Everest — o Acampamento Sul no Nepal, a 5.364 metros, ou o Acampamento Norte no Tibete, a 5.150 metros — para começar a subida. Este ano, o início de maio trouxe o caos quando o Ciclone Fani atingiu o Himalaia, forçando uma paralisação de dois dias nas atividades de escalada. Ventos fortes destruíram quase 20 barracas, e os alpinistas que se dirigiam aos acampamentos mais altos foram mandados de volta para a base. O atraso causou um gargalo, com centenas de alpinistas amontoados nos acampamentos base, esperando por uma melhora no tempo. Quando o céu ficou mais limpo nos dias 19 e 20 de maio e 22 e 24 de maio, a correria começou. Só no dia 23 de maio, mais de 250 alpinistas tentaram chegar ao cume, criando um agora infame “engarrafamento” capturado em uma foto viral que chocou o mundo. Este foi o maior número de alpinistas em um único dia na história do Everest.

 

As consequências foram terríveis. Caminhos estreitos e de mão dupla até o cume deixaram os alpinistas presos por horas em temperaturas abaixo de zero, com seus tanques de oxigênio se esgotando rapidamente. Exaustos e sem orientação imediata, muitos sucumbiram aos elementos. Os regulamentos de escalada do Nepal exigem oficiais de ligação para cada expedição, mas dos 59 designados nesta temporada, apenas cinco permaneceram até o final. Alguns abandonaram suas equipes precocemente, deixando os alpinistas à própria sorte em momentos críticos. Essa falta de supervisão exacerbou o caos, transformando uma escalada desafiadora em uma provação mortal.

Inexperiência: Uma ameaça crescente nas pistas

O aumento de mortes neste ano não se deve apenas à logística — mas também a quem está escalando. Escaladores veteranos e líderes do setor apontam para uma tendência preocupante: um influxo de aventureiros despreparados. Operadoras de turismo de baixo custo, ávidas por lucrar com o fascínio do Everest, reduziram o nível de exigência, aceitando clientes com habilidades mínimas. Algumas vítimas teriam tido dificuldades com equipamentos básicos de escalada, colocando a si mesmas e a outras pessoas em risco. Norbu Sherpa, um guia experiente, disse à CBC: “Muitas pessoas decidem escalar o Everest quando seu condicionamento físico não é adequado. É preciso ter uma excelente saúde cardiovascular para suportar essas condições adversas.” Seu alerta ressalta uma dura realidade: apenas entusiasmo não conquista o Everest.

 

Eric Murphy, um guia americano que escalou o Everest três vezes, descreveu uma escalada extenuante de 17 horas — cinco horas a mais do que o normal — devido a escaladores sem guia que se esforçavam para subir e descer a rota. “Cada minuto lá em cima é crítico”, disse ele. “Alpinistas inexperientes que não conseguem lidar com a situação criam sérios efeitos colaterais.” Em altitudes acima de 8.000 metros, conhecidas como “Zona da Morte”, a escassez de oxigênio pode desencadear dores de cabeça, náuseas, dificuldades respiratórias e até psicose. Para aqueles presos em filas a apenas 300 metros do cume, sem conseguir subir ou descer rapidamente, ficar sem oxigênio significava um desastre.

O negócio do Everest: lucro acima da segurança

A comercialização do Everest alimentou a crise. À medida que a demanda por tentativas de escalada cresce, as operadoras de turismo proliferam, competindo por preço em vez de qualidade. “Elas contratam guias inexperientes que não conseguem lidar com emergências”, disse Tshering Pandey Bhote, vice-presidente da Associação de Montanhismo do Nepal. O Nepal, uma das nações mais pobres do mundo, depende fortemente do turismo de escalada, gerando US$ 300 milhões anualmente. Em 2025, um recorde de 381 autorizações foram emitidas para 44 grupos, cada um acompanhado por guias sherpas, superando a capacidade da montanha. No entanto, o governo do Nepal não impõe requisitos rígidos de qualificação ou limites para as autorizações, permitindo que as operadoras priorizem o lucro em detrimento da segurança.

 

Alan Arnette, um renomado alpinista, observou: “É preciso passar por um teste de aptidão física para uma maratona, mas não há exigência para escalar o pico mais alto do mundo”. Essa falta de regulamentação permite uma competição sem limites, onde alpinistas subqualificados e guias mal treinados criam uma mistura mortal. Mirza Ali, um operador turístico paquistanês que escalou o Everest este ano após quatro tentativas, chamou isso de “uma enorme brecha”. “Todos querem subir ao pico mais alto do mundo, mas licenças não verificadas significam mais dinheiro, mais riscos e, em última análise, mais mortes”, disse ele.

Falhas sistêmicas: um apelo à reforma

A crise do Everest não se deve apenas ao clima ou à inexperiência — trata-se de negligência sistêmica. O governo do Nepal reconhece o problema da superlotação, mas enfrenta um dilema: o turismo é uma tábua de salvação, e restringir o acesso pode prejudicar a economia. Ainda assim, mudanças estão no horizonte. Yagya Raj Sunuwar, parlamentar nepalês, disse que o governo está revisando leis antigas. “Estamos discutindo reformas, incluindo o estabelecimento de padrões para escaladores do Everest”, acrescentou Mira Acharya, uma autoridade sênior do turismo. As propostas incluem certificações de habilidades mais rigorosas e limites de licenças, mas implementá-las sem alienar operadores ou escaladores continua sendo um desafio. Até que essas “brechas” sejam resolvidas, o Everest continuará sendo uma aposta mortal.

 

A mística do Monte Everest como o maior desafio humano é inegável, mas o número recorde de mortes deste ano lançou uma sombra sombria sobre seu legado. Superlotação, escaladores despreparados e regulamentações frouxas transformaram o “teto do mundo” em uma “Zona da Morte”, onde os sonhos muitas vezes terminam em tragédia. O governo do Nepal enfrenta um momento crucial: equilibrar os benefícios econômicos do turismo de escalada com a necessidade urgente de reformas. Para os escaladores, a lição é clara: o Everest exige respeito, preparação e responsabilidade. Enquanto lamentamos as 11 vidas perdidas em apenas nove dias, a pergunta paira no ar: a montanha pode se tornar mais segura ou será para sempre um jogo mortal?

 

 

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