Uma policial de Boston desapareceu em 1991: quatro anos depois, seu esqueleto foi encontrado em um veículo compactado. Foi Michael Patricia, funcionário de longa data da Sullivan’s Auto Salvage, quem primeiro notou algo estranho no sedã achatado, separado de uma pilha de veículos compactados. Isso resolveria um mistério de quatro anos que atormentava a Polícia Estadual de Massachusetts e a comunidade de Boston: o desaparecimento da policial Sandra Lynn Donnelly.

 

BOSTON, MA  — Em março de 1995, uma manhã de rotina na Concessionária Sullivan’s em River, Massachusetts, tomou um rumo assustador quando funcionários descobriram restos mortais dentro de um Buick azul amassado. Os ossos, parcialmente visíveis através do metal retorcido, resolveriam um mistério de quatro anos que assombrava a Polícia Estadual de Massachusetts e a comunidade de Boston: o desaparecimento da policial Sandra Lynn Donnelly.

Esta é a história de como um caso de desaparecimento se transformou em uma investigação de assassinato, como as perguntas sem resposta de uma comunidade foram finalmente respondidas e como a busca por justiça expôs a obscura intersecção entre obsessão, engano e tragédia.

 

A descoberta

Foi Michael Patricia, funcionário de longa data da Sullivan’s Auto Salvage, quem primeiro notou algo estranho no sedã achatado, separado de uma pilha de veículos comprimidos. Um clarão branco em meio aos destroços o levou a chamar o operador de guindaste Jimmy Kowalski. Juntos, eles se aproximaram do veículo e, através de uma rachadura no metal, viram o que pareciam ser ossos humanos e tiras de tecido que lembravam um uniforme.

 

“Chame a polícia agora mesmo”, ordenou Patricia, e em meia hora os detetives de Boston e a Polícia Estadual de Massachusetts estavam no local.

O detetive Robert Castellano liderou a investigação enquanto os técnicos forenses começavam a fotografar o veículo. O carro, um Buick Regal azul, havia chegado ao ferro-velho entre o final de 1991 e o início de 1992, ficou estacionado no estacionamento por meses e acabou sendo amassado, sem que sua carga tivesse sido descoberta até então.

 

Através das rachaduras no metal, a Tenente da Polícia Estadual Jennifer Walsh avistou um distintivo preso a um pano deteriorado. O número, ainda legível, era 2847. Uma rápida verificação nos registros da Polícia Estadual confirmou que o distintivo pertencia à policial Sandra Lynn Donnelly, desaparecida em outubro de 1991.

O soldado desaparecido

 

Sandra Donnelly, de 26 anos, era uma oficial de serviço no quartel de Framingham. Ela morava sozinha em Watertown e estava programada para trabalhar no turno da noite em 15 de outubro de 1991. Ela nunca se apresentou para o serviço. Seu veículo pessoal foi encontrado no estacionamento de seu condomínio, mas Sandra não foi encontrada em lugar nenhum.

As investigações iniciais não encontraram evidências de crime em seu apartamento. Seu uniforme e arma de serviço, uma Smith & Wesson 5906, estavam desaparecidos. Ele não tinha inimigos conhecidos, relacionamentos amorosos ou problemas financeiros. O caso foi encerrado rapidamente, sem pistas ou vestígios do policial desaparecido.

 

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O ponto de virada

 

O Buick destruído, agora confirmado como cena do crime, forneceu a primeira pista real em anos. A placa do veículo, placa de Massachusetts 847 JMK, foi rastreada até Richard Anthony Kesler, que o havia relatado como roubado do estacionamento do Hospital Geral de Boston em 16 de outubro de 1991, apenas um dia após o desaparecimento de Sandra.

O detetive Castellano e o tenente Walsh começaram a juntar as peças do tempo: Sandra desapareceu em 15 de outubro, o carro de Kesler foi roubado no dia seguinte e o Buick acabou em um ferro-velho, escondendo os restos mortais de Sandra por quatro anos.

A investigação é reaberta

Kesler, gerente de peças de uma concessionária local, pareceu genuinamente chocado ao ser confrontado pela polícia. Ele não tinha nenhuma ligação conhecida com Sandra Donnelly e havia relatado o roubo do carro dela enquanto visitava a mãe no Hospital Geral de Boston. Seu álibi para a noite de 15 de outubro de 1991 era claro, e não havia evidências de que ele tivesse conhecido Sandra.

A atenção se voltou para o Hospital Geral de Boston, onde Sandra havia investigado um acidente de atropelamento e fuga em julho de 1991. Registros de segurança e entrevistas revelaram que vários funcionários se lembravam de Sandra, e alguns demonstraram um interesse incomum por ela. A equipe do hospital admitiu que alguém havia obtido suas informações pessoais por meio de boletins de ocorrência.

Crucialmente, os registros telefônicos mostraram que Sandra havia recebido uma ligação de um telefone público do Hospital Geral de Boston às 20h47 da noite de seu desaparecimento. Os registros de segurança indicavam que o Dr. Kenneth Hullbrook, cirurgião ortopédico, estava presente no hospital naquela noite. Hullbrook havia interagido com Sandra durante a investigação do incidente e havia desenvolvido uma obsessão por ela, coletando informações e entrando em contato com ela sob o pretexto de fornecer novos detalhes sobre o incidente.

O suspeito surge

O passado do Dr. Hullbrook era limpo: nenhuma prisão, ele era respeitado no Hospital Geral de Boston, mas havia se divorciado recentemente e morava sozinho. Registros financeiros mostravam saques suspeitos de dinheiro na época do desaparecimento de Sandra. Imagens da câmera de segurança do hospital de 15 de outubro de 1991 mostraram Hullbrook no estacionamento minutos antes do telefonema para Sandra.

Uma busca na residência e no escritório de Hullbrook revelou mais evidências: uma caixa de instrumentos cirúrgicos, recortes de jornais sobre o desaparecimento de Sandra, seu cartão de visita com anotações pessoais e chaves do carro correspondentes ao Buick roubado.

Diante de evidências crescentes, Hullbrook confessou. Ele admitiu ter ligado para Sandra em 15 de outubro, atraindo-a ao hospital com uma história inventada sobre o acidente. Quando ela rejeitou suas investidas, ele ficou furioso, agarrou-a e, durante a luta, Sandra bateu a cabeça contra um pilar de concreto e perdeu a consciência. Em pânico, Hullbrook a forçou a entrar no Buick de Kesler, sem chave, dirigiu até um estacionamento remoto em River e abandonou o carro.

A caçada e a prisão

Após confessar, Hullbrook escapou espetacularmente da custódia policial, usando um bisturi escondido para cortar as algemas. Ele atacou um morador em Brookline, roubou um veículo e levou a polícia a uma perseguição por vários estados. Hullbrook acabou sendo encurralado no Hospital Hartford, em Connecticut, onde se rendeu pacificamente após horas de negociações.

Justiça e encerramento

A confissão de Hullbrook, combinada com provas físicas e depoimentos, levou à sua condenação por homicídio em primeiro grau. No julgamento, surgiram mais detalhes sobre sua obsessão por Sandra e seu comportamento inadequado em relação a outras funcionárias do hospital. O júri considerou Hullbrook culpado, e a juíza Patricia Morrison o condenou à prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional.

A família, os colegas e a Polícia Estadual de Massachusetts de Sandra finalmente receberam respostas após anos de incerteza. Sua memória foi homenageada com um jardim memorial, uma bolsa de estudos na Universidade de Boston e um prêmio anual por serviços excepcionais prestados por policiais mulheres.

Legado e lições aprendidas

O caso teve profundas implicações para a aplicação da lei e a segurança hospitalar. A Polícia Estadual de Massachusetts atualizou os procedimentos para os policiais que atendem a chamados civis. O Hospital Geral de Boston aprimorou o treinamento da equipe para reconhecer comportamentos inadequados e relatar preocupações. A Sullivan’s Auto Salvage implementou novos protocolos de inspeção para prevenir tragédias semelhantes.

O detetive Castellano e o tenente Walsh, cuja tenacidade levou à resolução do caso, receberam elogios por seu trabalho. A investigação se tornou um campo de treinamento para agências em toda a Nova Inglaterra, demonstrando a importância de nunca desistir de casos não resolvidos.

Em memória de Sandra Donnelly

A história de Sandra Lynn Donnelly é um lembrete contundente dos perigos enfrentados por aqueles que servem e protegem. Sua dedicação, profissionalismo e sacrifício jamais serão esquecidos. O caso está oficialmente encerrado, mas seu legado permanece vivo nas reformas, memoriais e ensinamentos que continuam a moldar a comunidade à qual ela serviu.

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